Comportamento
Escritórios compartilhados viram febre na Barra
08/03/2018Por Viviane Massi
Compartilhar é a palavra de ordem. A gente compartilha os posts de que mais gosta (Facebook), os quartos da nossa casa (AirBnb), os conhecimentos adquiridos (Bliive), as corridas de táxi (Uber), as nossas próprias histórias (blogs). E agora, cada vez mais, a gente compartilha o escritório, no formato popularmente conhecido como coworking.
No Brasil, a Regus é pioneira no compartilhamento de espaços, servindo multinacionais como Coca-Cola e IBM, sem escritórios próprios. Entretanto, o coworking como reflexo de uma economia colaborativa começou mesmo em 2010 e tomou grandes proporções nos dois últimos anos.
Segundo o Sebrae, “a economia colaborativa é um movimento de concretização de uma nova percepção de mundo. Ela representa o entendimento de que, diante de problemas sociais e ambientais que se agravam cada vez mais, a divisão deve necessariamente substituir o acúmulo. Trata-se assim de uma força que impacta a forma como vivemos e, principalmente, fazemos negócio”.
Em 2017, a chegada de novos players, como WeWork e Spaces, movimentou ainda mais esse mercado.
Perfil do coworking no Brasil e no mundo
O Censo Coworking Brasil 2017, elaborado pela Coworking Brasil, uma organização cujo objetivo é difundir esse formato de trabalho no País, traz números impressionantes sobre o crescimento de espaços compartilhados e de coworkers – pessoas que utilizam o coworking.
Em 2017, o número de espaços compartilhados cresceu 114% em relação a 2016, passando para 810 espaços conhecidos. São 56 mil estações de trabalho, sendo que 62% delas estão em uma capital. O Rio de Janeiro ocupa a segunda posição nos rankings de estado e cidade com o maior número de coworkings, perdendo apenas para São Paulo.
Veja alguns números:
Coworking na Barra da Tijuca
“As comunidades locais, aos poucos, irão começar a ver o coworking como uma atividade que valoriza a região, atrai pessoas mais conscientes e ajuda a finalmente descentralizar as congestionadas cidades”, acrescenta a Coworking Brasil.
E é isso o que está acontecendo na Barra da Tijuca. Atualmente, é possível contabilizar mais de dez empresas de coworking no bairro. A maioria das pessoas atribui a escolha pelo escritório compartilhado à redução de custos, mas também ao desejo de querer morar e trabalhar em lugares próximos, sem precisar suportar horas no trânsito e sem estar sujeito à insegurança do Rio.
O Tegra Hub, coworking fundado pela Tegra Incorporadora em agosto de 2017, faz parte desse grupo que está remodelando a forma de se trabalhar na Barra da Tijuca. Atualmente, são 42 posições de trabalho e 31 coworkers, com índice médio de 70% de ocupação.
“Além da redução dos custos, há um enorme ganho em foco. As pessoas não precisam se preocupar com questões que vão além do negócio delas. Se a internet cair, o problema é nosso. Se a água e o café estão lá é porque nós providenciamos. Se o papel higiênico acabar, nós vamos repor. Quando se aluga uma sala diretamente, há preocupações com pagamento de luz, aluguel, recepcionista. O coworking mudou isso. Paga-se um boleto único e acabou”, analisa Bruno Mota, da Dezker, empresa que administra o Tegra Hub.
Necessidade que se transforma em oportunidade
A Coworking Point, fundada em agosto de 2016, nasceu da conjunção de duas necessidades. O fundador Lino Teixeira começou a utilizar o coworking no Centro do Rio para consultorias depois que se aposentou. Disposto a abrir um negócio, identificou nos escritórios compartilhados uma oportunidade: abriu o seu próprio coworking.
“Eu só precisava identificar um bom local. Foi então que escolhi a Barra da Tijuca, uma região em franca expansão. A chegada do metrô, conjugada com outras conveniências, foi determinante para minha escolha”, relembra Lino, que está no Barrapoint Shopping.
Atualmente, a Coworking Point tem como cliente quatro empresas com posições fixas e cinco coworkers flutuantes. Uma tendência, segundo Lino Teixeira, são os eventos – em média, sete por mês – e o aluguel das salas de reunião, que têm sido muito utilizadas para entrevistas de emprego.
Estrutura e preços de um coworking
Em geral, as empresas de coworking oferecem quase sempre a mesma estrutura, planos muito parecidos e valores bem próximos, mas é sempre bom pesquisar as opções. A seguir, você encontra os planos mais comuns no mercado.
Compartilhamento de custos
A redução de custos é a principal razão para se trabalhar em escritórios compartilhados. Essa foi a principal motivação de Silvio Cesar, sócio de uma empresa de TI RealCloud, que presta consultoria em tecnologia de nuvem. A empresa, fundada há pouco mais de um ano, optou por esse modelo para diminuir as despesas iniciais com a montagem do escritório.
“Estávamos procurando um espaço na Barra para garantir a proximidade de casa, mas também para compartilhar os custos. No formato coworking, não é necessário contratar secretária nem comprar móveis. A gente se instala e começa a trabalhar”, simplifica Silvio.
A empresa de TI começou com ele e o sócio apenas, mas hoje já dispõe de uma sala exclusiva com oito posições de trabalho no Tegra Hub. “Uma sala dedicada funciona melhor porque atrapalharíamos o ambiente com conferências e reuniões”, acrescenta. Esta é, inclusive, uma das desvantagens do formato: aprender a dividir os espaços e entender que não se pode gritar ao telefone, por exemplo. Silvio e a equipe já entenderam isso.
Da cafeteria para o coworking
O home office foi a primeira opção das pessoas quando as empresas começaram a enxugar custos. Mas a solidão de casa e a falta de um ambiente profissional motivaram muita gente a migrar para as cafeterias. O próprio Bruno, da Dezker, chegou a utilizar a Starbucks por um tempo, assim como o Leo Barcelos, que se rendeu ao estilo coworker.
Leo trabalha nesse formato há um ano, todos os dias. “Eu acho ótimo, pois não há um vínculo profundo. Se eu quiser me mudar ou passar um tempo em outra cidade, estado ou até país, eu simplesmente cancelo minha estadia e busco um coworking próximo de onde vou ficar”, comenta o freelancer, que tem uma mesa à disposição dele das 8h às 19h, internet com contingência (se a principal cair, outra é ativada), impressão e sala de reunião, além do lounge no mezanino para reuniões rápidas e informais. Por mês, gasta em torno de R$ 500.
Para Leo, a única desvantagem é o horário. “Todos os coworkings onde trabalhei possuem limite de horário para chegada e saída. Isso é frustrante, pois muitas vezes quis trabalhar durante a madrugada para cumprir prazos de um projeto e não pude”, destaca.
Rede de contatos ampliada
Um estudo da Emergent Research, publicado na Harvard Business Review, mostrou que 83% dos entrevistados relataram que são menos solitários trabalhando em espaços compartilhados e que também expandiram suas redes de contato profissionais e pessoais.
O professor de inglês e youtuber Paulo Nideck buscou o coworking para expandir sua rede de contatos. A interação com outras pessoas gerou negócios como palestras e novos alunos. “Embora eu tenha um estúdio, esse formato de trabalho permite conhecer pessoas e se conectar a elas”, declara Paulo, que também destaca os custos baixos. “Gasto 20% do que gastaria numa sala comercial alugada. Aqui tenho mobília, internet, ar condicionado: toda a estrutura de um excelente escritório”, acrescenta o youtuber.
Para Paulo, é melhor do que trabalhar em casa porque gera um ritual. “Efetivamente vamos para o trabalho. A desvantagem é a questão do horário comercial. Outra coisa é que, se você não tomar cuidado, cai na procrastinação. É bem possível ficar lá se ocupando e não produzindo em prol de um resultado, mas isso também pode acontecer em casa, diante de outras tentações”, pontua.
Coworking em transformação
O formato atual já caminha para mudanças. Quem sinaliza isso é o fundador da Vinst, Eduardo Eiras. A Vinst é uma empresa de coworking que nasceu em 2015, no Recreio dos Bandeirantes, para ajudar pequenos empreendedores e hoje ocupa dois andares de um prédio na Barra da Tijuca.
Grandes empresas como Itaú, Google e Bradesco criaram espaços para estimular o empreendedorismo e identificar ideias inovadoras, que podem até mesmo beneficiar o negócio dessas companhias. “Essas grandes empresas estão estimulando o empreendedorismo e a inovação ao mesmo tempo em que fortalecem suas marcas”, comenta Eduardo Eiras.
Um exemplo é o Cubo Itaú, centro de empreendedorismo tecnológico que oferece recursos digitais, visibilidade da marca, participação em eventos sobre inovação, salas de reunião e posições de trabalho. Para se candidatar, é preciso que a startup ofereça uma solução com potencial de escala e tenha clientes que já tenham testado o produto ou serviço.
O Bradesco inaugurou, em dezembro do ano passado, o InovaBra Habitat, um espaço de coworking em São Paulo para empreendedores, startups e empresas, com áreas inclusive para eventos, palestras e workshops. No local, os profissionais contam com ambientes dedicados à ideação e à prototipação, assessoria na integração de startups e empresa e conexão com players globais.
Em novembro de 2017, a VIVO abriu uma loja icônica no Barra Shopping, na Barra da Tijuca, com área para coworking. O espaço de 285 m² conta com mais de 20 pontos de atendimento e locais onde o cliente pode trabalhar utilizando o wi-fi com tablets e notebooks da VIVO ou seus próprios aparelhos, fazendo uso de internet de alta velocidade.
Remodelando-se ou não, o que se sabe é que o coworking ainda tem muito para crescer. De acordo com a Global Coworking Unconference Conference, o número de locais de coworking, no mundo todo, deve passar dos quase 14,5 mil em 2017 para mais de 30 mil em 2022, aumento superior de 16% por ano. No mundo, serão mais de cinco milhões de coworkers daqui a cinco anos. E você, preparado para ingressar nessa nova comunidade?
90 seguidores